"É mais fácil suportar dores crônicas do que a fome. Trinta e cinco anos de clínica me ensinaram que geralmente somos patifes para dores agudas de forte intensidade; vi doentes rolarem no chão e suplicarem a Deus que se lembrasse deles no auge de uma cólica renal, de uma crise de vesícula ou de uma cefaleia excruciante. Em compensação, muita gente convive com dores crônicas na coluna, cólicas abdominais, episódios repetitivos de enxaquecas, estoicamente, sem lamentar a sorte. A persistência do quadro doloroso mobiliza reações incríveis nos organismos que sofrem dele.
Já com a fome não é assim. Quando ela aperta, o prazer de estar vivo desaparece. A paisagem mais encantadora, a mulher amada, o prêmio da loteria, nada traz ao faminto alegria que se compare a um prato de comida."
"Que ele se sirva do advérbio 'estoicamente' a propósito de um tema que, na filosofia antiga, foi sobretudo discutido pelos epicuristas mostra a eficácia da vulgar caricatura de que foram e que seguem sendo vítimas os epígonos e discípulos do Mestre do Jardim". (Moraes, J. Q. Epicuro, Máximas principais. São Paulo: Edições Loyola, 2010, p. 21, nota de pé de página 10)
para ver o texto completo de Drauzio Varella: A fome e a evolução da espécie: http://drauziovarella.com.br/wiki-saude/a-fome-e-a-evolucao-da-especie/
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