Aquele que diz que tudo acontece por
necessidade não tem nada a reprovar àquele que diz que tudo não acontece por
necessidade, porque diz que isso mesmo acontece por necessidade.(SV, 40)
O
argumento da necessidade é assim criticado por ser auto-refutável, pois quem o
sustenta não tem mérito por isso, embora pense ter e, por sua vez, quem o rejeita
não pode ser reprovado por rejeitá-lo, uma vez que tudo acontece por
necessidade. Ou seja, o próprio físico da necessidade admite haver uma
liberdade no nosso ato de pensar e dialogar, pois, de fato, crê que a correção do seu
argumento e a falha do argumento de seu interlocutor vêm deles mesmos.
Deste
modo, a negação da necessidade na origem (cf. DL, X, 90, onde se nega que o nascimento de um mundo seja possível por "necessidade mecânica") e, portanto, sua limitação, quebra os
elos da corrente causal que determinariam até mesmo nossos pensamentos e ações,
privando-nos assim, da liberdade. Tal quebra abre espaço para a ação livre,
porém não é constitutiva dela, pois a negação da necessidade dá vazão ao seu
oposto, a saber, o acaso (týche), entretanto este não propicia a liberdade,
pois ele é inconstante (ástaton), apenas dá condições para, uma vez ausente a necessidade,
agirmos livremente. Lembremo-nos aqui, que existem três modos de ocorrência na phýsis: necessidade, acaso e por nós (par'hemás) (D.L. X, 133). Assim, com a necessidade restrita o acaso garante seu lugar na phýsis, abrindo a possibilidade para a
ação livre. Porém essa possibilidade só se efetiva quando entra em cena o logísmos e a autárkeia (o cálculo racional e a autossuficiência).
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